Crise humanitária se agrava no sul do enclave palestino; população faminta intercepta comboios de alimentos após bloqueio de quase 80 dias.
Pelo segundo dia consecutivo, a Faixa de Gaza registrou saques em comboios de ajuda humanitária. Na madrugada deste domingo (1º), mais de 70 caminhões carregados com alimentos foram interceptados por uma multidão faminta perto de Khan Younis, no sul do território. Moradores desesperados se aglomeraram na estrada Salah al Din e levaram sacos de farinha, açúcar, grãos e outros itens essenciais. O Programa Mundial de Alimentos (PMA) confirmou os episódios e afirmou que os caminhões tinham como destino o norte da Faixa de Gaza, onde a situação é ainda mais crítica.
No sábado (31), 77 caminhões que transportavam farinha foram igualmente saqueados. Os veículos haviam entrado por pontos no sul de Gaza durante a noite e a manhã, mas foram parados antes de chegar ao seu destino. “Após quase 80 dias de bloqueio total de abastecimento, a população está desesperada e não suporta ver comida passar sem receber nada”, declarou o PMA em nota publicada na rede X (antigo Twitter). A agência alertou que, embora a entrada de ajuda represente um avanço, ela ainda é insuficiente diante da crise.
Desde a flexibilização parcial do bloqueio israelense em 2 de março, a entrada de alimentos na região tem sido irregular. Caminhões enfrentam longas inspeções, entraves burocráticos e, muitas vezes, são obrigados a descarregar a carga novamente no ponto de entrada. Segundo a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), apenas 200 caminhões conseguiram entregar alimentos à população — um número bem abaixo dos 500 veículos que entravam diariamente em Gaza antes do conflito.
A escassez extrema de comida tem levado moradores a ações desesperadas. Durante os saques mais recentes, o PMA informou que alguns grupos tentaram manter certa ordem, pedindo que cada pessoa levasse apenas uma sacola. Ainda assim, o cenário é de colapso social, agravado pela falta de coordenação efetiva na distribuição e pela destruição de infraestrutura básica, o que dificulta o transporte e armazenamento dos mantimentos.
Paralelamente, sob pressão internacional, Israel autorizou que uma fundação independente começasse a distribuir caixas de alimentos em complexos militarizados. Contudo, apenas um desses centros está em funcionamento e por tempo limitado, operando algumas horas por dia na cidade de Rafah. Neste domingo, a tensão aumentou na região: ao menos 21 pessoas morreram e 179 ficaram feridas quando tropas israelenses abriram fogo contra uma multidão que aguardava para receber comida.
A escalada da crise humanitária em Gaza tem mobilizado organizações internacionais e gerado novas críticas à condução do bloqueio e da assistência. Com a maior parte da população vivendo abaixo da linha da pobreza e sofrendo com falta de água potável, eletricidade e medicamentos, especialistas alertam que a insegurança alimentar pode atingir níveis catastróficos se não houver uma mudança imediata na logística de ajuda e proteção aos civis.
Fonte: Jovempam