Com 11 mulheres assassinadas em 2025, deputados cobram mais ações do GDF e lembram leis que ainda aguardam regulamentação
Em um intervalo inferior a 24 horas, duas mulheres foram vítimas de feminicídio no Distrito Federal, escancarando a urgência do combate à violência de gênero. Os casos chocaram a população e repercutiram intensamente na Câmara Legislativa (CLDF), onde parlamentares utilizaram a tribuna nesta terça-feira (20) para denunciar omissões do Estado e cobrar medidas efetivas de proteção às mulheres.
As vítimas foram Vanessa da Conceição Gomes, assassinada na noite do último domingo (18), em Samambaia, com o companheiro como principal suspeito; e Liliane Cristina Silva de Carvalho, morta na manhã de segunda-feira (19), em Ceilândia, possivelmente pelo ex-companheiro.
O deputado Chico Vigilante (PT) foi o primeiro a abordar o tema no plenário. “Não dá para continuar com essa situação de assassinatos, espancamentos e violências praticadas contra as mulheres aqui no Distrito Federal”, disse. Para ser classificado como feminicídio, o crime precisa ser motivado por circunstâncias como violência doméstica, menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
O também parlamentar Fábio Felix (Psol) destacou que o DF já contabiliza 11 feminicídios em 2025 e relembrou que muitas vítimas chegaram a procurar o poder público antes de serem mortas, mas não obtiveram proteção adequada. Ele criticou a falta de resposta do governo às recomendações da CPI do Feminicídio, realizada entre 2019 e 2021, que resultou em 80 propostas de ação. “A resposta do GDF? Ausência. Falta de investimento. Serviços precarizados”, lamentou.
Por outro lado, Pastor Daniel de Castro (PP) ressaltou os esforços do governo. “Temos baixado os índices. Mas isso não é suficiente. A onda de feminicídios precisa ser zerada com urgência”, declarou. Apesar das críticas, Felix também reconheceu avanços, como a regulamentação de leis de sua autoria: uma que garante passe livre temporário para vítimas de violência e outra que prevê uma bolsa para órfãos do feminicídio.
A procuradora especial da Mulher na CLDF, Paula Belmonte (Cidadania), destacou o contraste entre a violência contra mulheres e a capacidade econômica do DF. “Temos um orçamento de R$ 73 bilhões, somos 3 milhões de habitantes, e mesmo assim vemos mulheres morrendo. Isso é inadmissível.”
O debate também gerou polarização. Thiago Manzoni (PL) atacou o que chamou de “valores distorcidos” promovidos pela esquerda. Segundo ele, músicas que objetificam a mulher contribuem para a violência. “Não é só o homem que objetifica, são as músicas que vocês [esquerda] chamam de cultura”, acusou, defendendo a retomada de valores conservadores para frear os crimes.
Doutora Jane (MDB) encerrou os discursos prestando solidariedade às famílias de Vanessa e Liliane: “Essas mulheres tiveram suas vidas ceifadas pela ignorância, covardia e violência. Já são 11 este ano. Não podemos continuar contando mortes”, disse, emocionada.
O Distrito Federal, que já figurou entre os líderes do país em políticas públicas voltadas às mulheres, hoje enfrenta o desafio de transformar leis em ações concretas e eficazes, enquanto a população cobra respostas urgentes diante de números alarmantes.
Fonte: www.cl.df.gov.br